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domingo, 12 de dezembro de 2010

Papai Noel em Bauru?

EU VI PAPAI NOEL E SEU TRENÓ NAS RUAS DE BAURU
Ele circula livremente e sem nenhum tipo de assédio nas principais ruas de Bauru. De origem nipônica, com os olhinhos puxados, algo um tanto estranho, esse senhor, desgastado pelo tempo, queimado de sol e calado como quase toda pessoa de origem oriental, circula em andrajos. Seu provável trenó são seus pertences, que amarrados uns aos outros são puxados pela força de seus braços, levados de um lugar para outro.
Muito conhecido nas cercanias da Rua Araújo Leite, anda alguns metros, dá uma breve parada, descansa o suficiente para poder continuar e segue em frente, não se sabe para onde. Morador de nossas ruas, com idade já ultrapassando os 60 anos, é personagem das mais conhecidas na cidade. Por ser de origem nipônica, ouço dizer que membros da comunidade já tentaram de todo jeito tirá-lo das ruas, pois isso denigre as origens pregadas pela colônia. Nada conseguiram. Irredutível, peregrina impassível aos olhares dos que ainda conseguem se indignar com tal cena.
Nessa época dezembrina lembra demais um personagem que invade os lares brasileiros. O outro, de roupa vermelha, impecável e provocando calafrios, pelo calor que deve emanar a acalorada vestimenta. Esse, calça amarrada com barbante, camisa rota e quase sem botões, sapatos sem cadarços e um pé de cada modelo, às vezes com algo na cabeça, num objeto que nem pode ser denominado de chapéu, mesmo nessas condições, relembra muito o personagem criado para reverenciar o comércio natalino.
Ele não circula nos lugares mais iluminados da cidade, onde o festival de luzes e cores explode num mar de beleza. Seu cenário são as calçadas e sarjetas. Ali ele reina e passa impávido diante de todos, puxando sua tralha, sua casa e pertences. Tudo o que é seu está ali, junto dele. Vai e vem, sobe e desce. Assim como ele, milhares arrastam a inconstância e as incertezas por nossas ruas, quase sem serem notados. Não consigo me engajar numa festa de presentes e comes e bebes enquanto gente assim segue sem rumo e sem perspectiva.
Em dezembro eles chamam muito mais a minha atenção. Paro o carro e enquanto as luzes piscam me mostrando outro lado, prefiro continuar dando minha atenção para esses invisíveis, os deserdados do atual mundo em que vivemos. Sem ser piegas, sem falsear na escrita, sem sentimentalismo barato, isso me toca muito mais que o festejo todo que se avizinha.
Do grande companheiro Henrique Perazzi de Aquino - RG 9.710.205-2 www.mafuadohpa.blogspot.com

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