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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Troca-troca em São Paulo

Mudando de lado: Gilberto Kassab estuda trocar o DEM pelo PMDB e enfraquecer a oposição a Dilma Rousseff

Um dos esteios da oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o DEM iniciou o ano abatido por um escândalo de corrupção na única unidade da Federação sob sua administração, o Distrito Federal, depois que o ex-governador José Roberto Arruda foi filmado recebendo dinheiro vivo proveniente de caixa dois. Encerrado o processo eleitoral, o partido, em aliança com o PSDB de José Serra, foi derrotado na disputa pela Presidência, perdeu sete vagas no Senado (caiu de 13 para seis senadores) e encolheu na Câmara dos Deputados (caiu de 56 para 43 parlamentares), mas venceu os governos de Santa Catarina e Rio Grande do Norte. Passou longe da redenção, mas manteve-se vivo.
Agora, o DEM encontra-se diante de um perigo que transcende o resultado das urnas. Um de seus principais líderes, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, histórico aliado dos tucanos, engatou um namoro com o PMDB, partido de vida dupla que ocupa a vice-prefeitura da capital paulista com Alda Marco Antonio e ocupará a Vice-Presidência da República no governo de Dilma Rousseff com Michel Temer. "Nós já havíamos convidado o Kassab para entrar no partido antes das eleições. Agora, mantemos as portas abertas para ele. Seria importante para nós e para o prefeito", diz o presidente do PMDB paulistano, Bebeto Haddad. Em 2008, ele ajudou a articular a aliança entre o DEM e o PMDB em torno da reeleição de Kassab.
Em público, Kassab não comenta o assunto. Reservadamente, confidenciou a interlocutores a preocupação com "o futuro do DEM" na oposição a Dilma e com o cenário político rumo a sua sucessão, em 2012. Kassab não poderá concorrer à reeleição, pois assumiu o cargo em 2006, quando Serra deixou a prefeitura para concorrer ao governo.
A vitória do tucano Geraldo Alckmin neste ano, na disputa pelo governo de São Paulo, deixou Kassab preocupado com a possibilidade de ficar sem espaço político para lançar um candidato a sua sucessão. Além de Alckmin ser um rival na política paulista, o PSDB deverá ter um nome próprio na eleição para a prefeitura da maior cidade do país. Se for para o PMDB, Kassab poderá escolher à vontade seu candidato. Além disso, se transformaria em herdeiro do espólio do ex-governador Orestes Quércia, atualmente licenciado da direção do PMDB paulista por motivos de saúde. Nos bastidores da operação está Temer, com quem Kassab mantém boas relações. Outra opção à disposição de Kassab seria se transferir para o PSB, outro partido da órbita lulista.
"O eleitor escolheu o DEM para ser oposição. E ele assim o será" AGRIPINO MAIA, senador do DEM
Inicialmente, Kassab cogitou uma união do DEM com o PMDB. A hipótese foi rechaçada por seus atuais companheiros. "Fusão nem pensar, ainda mais com um partido da base de apoio ao presidente Lula", diz o senador José Agripino Maia, reeleito no Rio Grande Norte. Para ele, o DEM terá de sobreviver na oposição. "O eleitor votou no Serra e no DEM como alternativa a Lula e a Dilma. Temos de respeitar esse eleitor."
Segundo Agripino, nos próximos dias a cúpula do DEM se reunirá com Kassab. "Vamos conversar com ele como companheiros", afirmou. No encontro, os líderes do DEM tentarão convencer Kassab de que permanecer na oposição a Dilma e ao PT será um bom negócio. Para o vigor do regime democrático no Brasil, é bom também que o DEM não se esfarele. "O Brasil ainda é um país com traços conservadores.Não seria ruim para o DEM nem para a democracia se definir como um partido ultraliberal de oposição", diz o cientista político José Álvaro Moisés, da Universidade de São Paulo (USP). "Mas, para isso, é preciso aprofundar seu programa e se inserir na sociedade. Se ficar com uma oposição apenas de Congresso, será difícil para o DEM voltar a crescer.

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